Entrevista a Mike Stewart

19-11-2009 19:54


Em Portugal para participar no Special Edition Nazaré, Mike Stewart saiu da água para nos falar de si. O Destak pediu a Francisco Fonseca, rider do circuito mundial de windsurf de ondas para o entrevistar. Aqui fica a versão completa.

Como é que tudo começou?
Nasci Hawai rodeado de mar, era inevitável ser atraído pelas ondas. Se tivesse crescido com uma montanha ao lado, provavelmente era agora esquiador, se vivesse ao pé de penhascos seria alpinista. Usamos os recursos que temos.

Pipeline é uma das ondas mais mediáticas e mortíferas do mundo do surf e do bodyboard. É o único não-surfista a ser considerado um Mr.Pipeline...
(risos) Mesmo eu não tenho bem a certeza porquê. Mas gosto de pensar que é a prova de que me acham bom naquela onda.

O seu primeiro titulo de campeão mundial aconteceu há 26 anos – ainda é o que lhe sabe melhor?
Tinha na altura 23 anos, era um miúdo. Confesso, que depois do delírio de o receber, fiquei com um certo sentimento de depressão pós-prémio, como acontece sempre que trabalhamos e sonhamos muito com atingir um objectivo mas chegados ao cume, só vemos uma descida do outro lado. Combati este sentimento estabelecendo objectivos ainda mais altos, sempre mais altos.

Se pudesse ser profissional de um desporto terrestre de qual seria?
Não sei, não sei, curioso nunca tinha pensado nisso, mas estar no top de qualquer desporto é um óptimo sítio para se estar... Provavelmente seria era mais rico. Bem, retiro o que disse, já passei a fase de ter uma mansão frente ao mar e não fui mais feliz por isso. Hoje dou mais valor a coisas realmente importantes, como a família e os amigos. E ao mar.

O 10º titulo mundial é um objectivo fundamental? Ou o nove que já tem serve perfeitamente?
Não, não serve. Quero o 10º, é um objectivo que impus a mim mesmo. Mas estou sempre a ganhar, porque há uns tempos não acreditava que com esta idade (46 anos) ainda estaria em posição de alcançar um título mundial. É enebriante! Sinto-me como um miúdo.

Vai sentir uma depressão pós dez títulos?
Acho que não. Entretanto, já descobri que pudemos estar tristes ou felizes em qualquer momento, e que dos momentos em baixo podemos tirar a energia para subir... Descobri que mesmo a energia negativa pode ser transformada em combustível.

Tem dois filhos. Ser pai mudou a sua maneira de encarar as ondas perigosas?
Quando nasceu o meu primeiro filho, que tem agora 8 anos, passei uma fase em que me senti psicologicamente paralisado. Como é que podia correr riscos, quando tinha uma criança à minha responsabilidade? Simplesmente, não há nada mais perigoso do que enfrentar uma onda com hesitação. Temos que estar concentrados a 100%. Quando percebi isso, percebi que se não me envolvesse completamente, então sim havia aumentava a possibilidade de morrer ou ficar lesionado. Porque morrer é uma possibilidade num desporto como este, mas não podemos deixar que o medo entre no jogo.

É o único bodyboarder que apanhou ondas em Jaws, no Hawai...
Não fui o único, haverá mais alguns, mas tive a sorte de apanhar as ondas maiores. Usei a mesma prancha que tinha usado no dia anterior para surfar meio metro, mas mais tarde mandei fazer uma mais pesada para ondas mesmo grandes.

Como se sente ao ser uma lenda aos 46 anos, quando habitualmente as pessoas só se tornam lendas quando morrem.
É uma honra. Mas já que há pessoas que têm os olhos em mim, sinto que tenho de partilhar com elas o que aprendi. E o que aprendi foi que devemos seguir a nossa paixão, conceber um estilo de vida a volta dela, e gerir com inteligência o nosso desejo.

Mas para seguir a paixão é preciso patrocínios. Foi fácil arranjá-los quando começou?
(Risos) O meu primeiro sponsor pagava-me 50 dolares por mês, mas foi crescendo a partir dai. A modalidade tem passado por altos e baixos, mas agora estamos a entrar numa fase boa.

Em Portugal, de novo – quais são as suas expectativas para a Nazaré?
As expectativas são um pesadelo, odeio-as. Se são más, tendemos a tornar verdade a nossa própria profecia, se são boas, estamos sempre com medo da desilusão. Viajar sem expectativas torna tudo o que se encontra muito melhor, é só viajar uma vez com expectativas, e uma vez sem, e perceber a diferença. Mas é preciso fazer disto uma lei, um mantra.

Porque Bodyboard e bodysurf, e não surf?
Gosto da intimidade com as ondas, gosto imenso do bodysurf (surfar com o próprio corpo) por isso. As ondas que gosto de apanhar são ondas perigosas e temperamentais, que exigem imensa técnica, não são tanto as ondas para surf. Em certos sítios, o surf é socialmente mais prestigiado, mas estou-me nas tintas para isso. É só porque nunca viram bodyboard a sério.

Os pais tendem a olhar com desconfiança estas opções profissionais. Como é que foi consigo?
A minha mãe tentou tirar-me do mar e fazer me entrar numa vida mais das 9 as 5. Os pais querem o melhor para os filhos, mas o munda está em constante mudança e hoje há empregos que nem sequer existiam há 5 anos atrás. Eu diria aos mais novos que nos estão a ler, que aproveitem a sabedoria dos pais mas sejam espertos a dar-lhe a volta. As minhas melhores experiências de vida foram no mar, são única, é impossível descrever a sensação de entrar num tubo, rodeado de água por todos os lados, como se estivéssemos num canal de gelo. As pessoas que nunca as viveram têm dificuldade em perceber como ficamos viciados nas ondas...

E o que é que ela diz agora?
Hoje em dia trabalha para mim! Lol. Tenho uma marca, a Mark Stewart Science, que produz pranchas, barbatanas e todo o material relacionado com o bodyboard. Tento que as minhas preocupações ambientais, se reflictam no material que produzo e acabei de lançar umas barbatanas 100% naturais. E ando à procura de um material reciclado para as próprias pranchas.

Faz preparação, yoga, alguma dieta especial?
Faço alongamentos uma hora por dia, ao som de boa música. Quanto à alimentação, é muito importante tomarmos conta do nosso corpo, é o nosso mundo e não podemos estar sempre a olhar só para o exterior. Pessoalmente, sigo uma dieta chamada Metabolic Typing Diet, que consiste numa análise da forma como o nosso corpo reage a certos alimentos, fazendo depois deles a nossa dieta – é uma dieta personalizada.

Em Portugal inclui o vosso peixe, que é fantástico, como aliás a vossa comida em geral. Em família optamos por uma vida simples: comemos as hortaliças que a minha mulher planta na horta e temos seis galinhas... até agora os nossos filhos não nos deixam comê-las, mas põem ovos!

E agora o Special Nazaré. O que pensa do conceito os vinte melhores para as melhores ondas?
O conceito é fantástico e foi por isso é que vim. É a possibilidade de mostrar o melhor do bodyboard, o mais alto nível técnico. O bodyboard é fantástico, pode ser praticado até por alguém que não sabe nadar, não que eu recomende, mas dá gozo logo desde princípio, e depois é só ir subindo pelas ondas acima.

 

Fonte: DESTAK

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